segunda-feira, 10 de março de 2014


Dicas Pedagógicas: A Invenção da Infância

“Nem sempre ser criança é ter direito a  viver a infância”, seja pela exclusão social e exploração de seu trabalho ou pela  exposição dela às rotinas, aos valores e às práticas do mundo adulto. 

Esse é o tema tratado no documentário A Invenção da Infância que aborda  historicamente a construção moderna do conceito infância (a partir da Renascença)  focando a discussão sobre as diferenças na experiência de ser criança no Brasil da  atualidade*. 

Impactante, o vídeo inicia com as principais invenções do renascimento e passa a mostrar  dados a respeito do planejamento familiar e da mortalidade infantil no nosso país. Para tornar esses dados ainda mais marcantes, eles são apresentados por meio de relatos de mães  vítimas dessa situação. A segunda parte do vídeo traz outra cruel realidade brasileira: o  trabalho infantil. Novamente, a forma de apresentação é com depoimentos, mas dessa vez  eles são intercalados por meninos que vivem essa chaga e outras meninas que têm um alto  padrão social
Sinopse: Ser criança não significa ter infância. Uma reflexão sobre o que é ser criança no mundo contemporâneo.
Gênero: Documentário
Diretor: Liliana Sulzbach
Duração: 26 min Ano: 2000 Formato: 16mm 
País: Brasil Local de Produção: RS 
Cor: Colorido 
Dicas Pedagógicas

A Invenção da Infância: Dicas Pedagógicas - TV Escola 
Aplicabilidades em Educação: 

*Comentários de Maria da Conceição Carneiro Oliveira


fonte:http://suburbanodigital.blogspot.com.br/

sexta-feira, 5 de abril de 2013


Que a Terra é linda, cheia de riquezas e diversidades todos já sabem. Porém, vivemos um tempo de muitas instabilidades em nosso planeta. As instabilidades que assolam são de diferentes origens: ambiental, político-social, institucional, moral, ética; entre outras. Diante de tantas dificuldades cotidianas, percebemos a enorme importância dos profissionais da Geografia. Tanto o licenciado quanto o bacharel nessa área merecem um melhor reconhecimento devido à sua importância na sociedade em que vivemos.
A Geografia enquanto uma ciência multidisciplinar deveria receber o mérito que lhe é devido. Cabe-nos nesse momento fazer uma reflexão sobre a importância da Geografia, principalmente na área educacional. O que temos visto em algumas escolas de diferentes municípios e estados da nossa nação é um verdadeiro descaso com a nossa disciplina. Deixo aqui uma dúvida que somente os professores da área saberão do que estou falando, das nossas inúmeras ansiedades e dificuldades.
A Ciência Geográfica é uma ciência complexa! Devemos levar aos nossos alunos o entusiasmo da relação aprender/ ensinar. Cada um dos nossos alunos deverá descobrir a “Geografia que existe dentre de si”, que, mediado pelos profissionais da área, poderá fazer uma leitura crítica e metodologicamente responsável por seus atos de cidadania. Entender a complexidade da Geografia é compreender a dinamicidade do nosso planeta e suas funcionalidades.
Enquanto educadores, nossa principal meta é atingir a plena cidadania de nossos alunos e levá-los ao entendimento de que qualquer ato/ ação é geográfico. Devemos entender que a tarefa de “ensinar” não é fácil, principalmente na Geografia. Nosso sucesso enquanto professores/ educadores só acontecerá quando o cansaço não nos abater e sim conseguirmos ser criativos, motivadores, quase altruístas. Como ciência multidisciplinar, a Geografia tem uma variedade muito grande de métodos/ meios de ensino para levar os seus mais diferentes conteúdos.
Todos nós (alunos, professores; digo: todo ser humano) vivemos a Geografia dentro de nos. Nossa importância enquanto educadores é elevar a Geografia ao patamar mais alto de criticidade, entusiasmo, motivação e ética. Descubra a Geografia que existe dentro de você e a transmita!
* André Luiz do Nascimento Quincas é bacharel em Geografia pela Universidade Federal de Juiz de Fora, Especialista em Solos e Meio Ambiente pela Universidade Federal de Lavras.

http://conhecimentopratico.uol.com.br/geografia/mapas-demografia/38/artigo224961-1.asp

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012


PROFESSOR

Ilustração: Laurabeatriz


Se há uma criatura que tenha necessidade de formar e manter constantemente firme uma personalidade segura e complexa, essa é o professor.

Destinado a pôr-se em contato com a infância e a adolescência, nas suas mais várias e incoerentes modalidades, tendo de compreender as inquietações da criança e do jovem, para bem os orientar e satisfazer sua vida, deve ser também um contínuo aperfeiçoamento, uma concentração permanente de energias que sirvam de base e assegurem a sua possibilidade, variando sobre si mesmo, chegar a apreender cada fenômeno circunstante, conciliando todos os desacordos aparentes, todas as variações humanas nessa visão total indispensável aos educadores.

É, certamente, uma grande obra chegar a consolidar-se numa personalidade assim. Ser ao mesmo tempo um resultado — como todos somos — da época, do meio, da família, com características próprias, enérgicas, pessoais, e poder ser o que é cada aluno, descer à sua alma, feita de mil complexidades, também, para se poder pôr em contato com ela, e estimular-lhe o poder vital e a capacidade de evolução.

E ter o coração para se emocionar diante de cada temperamento.

E ter imaginação para sugerir.

E ter conhecimentos para enriquecer os caminhos transitados.

E saber ir e vir em redor desse mistério que existe em cada criatura, fornecendo-lhe cores luminosas para se definir, vibratilidades ardentes para se manifestar, força profunda para se erguer até o máximo, sem vacilações nem perigos. Saber ser poeta para inspirar. Quando a mocidade procura um rumo para a sua vida, leva consigo, no mais íntimo do peito, um exemplo guardado, que lhe serve de ideal.

Quantas vezes, entre esse ideal e o professor, se abrem enormes precipícios, de onde se originam os mais tristes desenganos e as dúvidas mais dolorosas!

Como seria admirável se o professor pudesse ser tão perfeito que constituísse, ele mesmo, o exemplo amado de seus alunos!

E, depois de ter vivido diante dos seus olhos, dirigindo uma classe, pudesse morar para sempre na sua vida, orientando-a e fortalecendo-a com a inesgotável fecundidade da sua recordação.

Texto de Cecília Meireles, extraído do livro Crônicas de Educação 3
Ilustrado por Laurabeatriz
 
Quer saber mais?
Crônicas de Educação — Volume 3, Cecília Meireles, 262 págs., Ed. Nova Fronteira, tel. (21) 2537-8770, 35 reais 

domingo, 9 de setembro de 2012

A busca da identidade na adolescência

É na puberdade que o jovem reconstrói seu universo interno e cria relações com o mundo externo. Entenda os processos que marcam a fase

Ana Rita Martins (novaescola@atleitor.com.br
Ilustração: Daniella Domingues
ALINE Essa sou eu?Qdo o corpo cresce, assusta. Evolui rápido... Acho que eu não tava preparada, me sinto estranha. Queria conversar, mas não falo com meus pais sobre isso.Ilustrações: Daniella Domingues
A transformação tem início por volta dos 11 anos. Meninos e meninas passam a contestar o que os adultos dizem. Ora falam demais, ora ficam calados. Surgem os namoricos, as implicâncias e a vontade de conhecer intensamente o mundo. Os comportamentos variam tanto que professores e pais se sentem perdidos: afinal de contas, por que os adolescentes são tão instáveis?

A inconstância, nesse caso, é sinônimo de ajuste. É a maneira que os jovens encontram para tentar se adaptar ao fato de não serem mais crianças - nem adultos. Diante de um corpo em mutação, precisam construir uma nova identidade e afirmar seu lugar no mundo. Por trás de manifestações tão distintas quanto rebeldia ou isolamento, há inúmeros processos psicológicos para organizar um turbilhão de sensações e sentimentos. A adolescência é como um renascimento, marcado, dessa vez, pela revisão de tudo o que foi vivido na infância.

Para a pediatra e psicanalista francesa Françoise Dolto (1908-1988), autora de clássicos sobre a psicologia de crianças e adolescentes, os seres humanos têm dois tipos de imagem em relação ao próprio corpo: a real, que se refere às características físicas, e a simbólica, que seria um somatório de desejos, emoções, imaginário e sentido íntimo que damos às experiências corporais. Na adolescência, essas duas percepções são abaladas. A puberdade (conjunto das transformações ligadas à maturação sexual) faz com que a imagem real se modifique - a descarga de hormônios desenvolve características sexuais primárias (aumento dos testículos e ovários) e secundárias (amadurecimento dos seios, modificações na cintura e na pélvis, crescimentos dos pelos, mudanças na voz etc.). Falas como a de Aline*, 14 anos (leia o destaque na imagem acima), indicam a perda de segurança em relação ao próprio corpo. É comum que aflorem sentimentos contraditórios: ao mesmo tempo em que deseja se parecer com um homem ou uma mulher, o adolescente tende a rejeitar as mudanças por medo do desconhecido.
Isso ocorre porque a imagem simbólica que ele tem do corpo ainda é carregada de referências infantis que entram em contradição com os desejos e a potência sexual recém-descoberta. É como se o psiquismo do jovem tivesse dificuldade para acompanhar tantas novidades. Por causa disso, podem surgir dificuldades de higiene, como a de jovens que não tomam banho porque gostam de sentir o cheiro do próprio suor (que se transformou com a ação da testosterona) e a de outros que veem numa parte do corpo a raiz de todos os seus problemas (seios que não crescem, pés muito grandes, nariz torto etc.). São encanações típicas da idade e que precisam ser acolhidas. "O jovem deve ficar à vontade para tirar dúvidas e conversar sobre o que ocorre com seu corpo sem que sinta medo de ser diminuído ou ridicularizado. Além disso, ele necessita de privacidade e, se não quiser falar, deve ser respeitado", afirma Lidia Aratangy, psicóloga e autora de livros sobre o tema. Apenas quando perduram as sensações de estranhamento com as mudanças fisiológicas um encaminhamento médico é necessário.

O afastamento dos pais revela a necessidade de outros modelos

A dificuldade em lidar com o corpo está diretamente relacionada à nova relação que o jovem tem de construir com seus pais. Isso porque, na adolescência, o amadurecimento sexual faz com que o Complexo de Édipo, descrito pelo criador da Psicanálise, Sigmund Freud (1856-1939), seja revivido. De acordo com Freud, a criança desejaria inconscientemente tomar o lugar da mãe ou do pai no par amoroso. Como eles são as primeiras referências masculinas e femininas que a criança tem, ao querer substituir uma delas, a relação com o "concorrente" fica confusa, alternando-se entre o amor e ódio - o que pode, mais tarde, fazer com que a pessoa tenha dificuldades no relacionamento amoroso. Se a criança aceita o fato de não poder se unir ao pai ou à mãe, ela passa a lidar de forma equilibrada com as duas referências e internaliza a proibição do incesto.
Na adolescência, resquícios de um Complexo de Édipo mal resolvido podem vir à tona. Surge daí a necessidade inconsciente de buscar outros modelos de homem e mulher além do pai e da mãe. O distanciamento também é uma forma de reelaborar a imagem idealizada dos pais e provar que não se é mais criança. "Esse comportamento serve para que o adolescente exercite a definição de uma identidade baseada em experiências mais amplas", diz Miguel Perosa, terapeuta e professor de Psicologia da Adolescência na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Isso não quer dizer que o adolescente não possa ter saudade da dependência infantil e de comportamentos que aludam a ela. Mas, uma vez nessa fase, ficam cada vez mais constantes as saídas em grupo e a oposição verbal e física às referências paternas e maternas, como indica a fala de João*, 13 anos (leia o destaque abaixo).
Ilustração: Daniella Domingues

JOÃO Meu pai ñ me entende!Meu pai e minha mãe sempre me seguram em ksa... É um saco... Quero sair com meus amigos e eles ficam implikando. Cansei de ficar em ksa conversando com eles. É sempre a mesma coisa. Eles querem que eu tenha a vida + chata do universo!
Na sala de aula, é importante estabelecer limites quando o adolescente adota uma postura de confronto para se afirmar ou quando transforma o professor em referência masculina, feminina ou de comportamento. No primeiro caso, deve-se escutar o que o adolescente tem a dizer - valorizar sua voz é abrir as portas do diálogo -, mas também apontar as normas de conduta da instituição e do convívio civilizado. No segundo, a melhor saída é chamar a atenção para aquilo que há de positivo no comportamento do próprio jovem. Assim, ele poderá começar a reconhecer nele mesmo traços da identidade que constrói.



No mundo interno, o peso do julgamento dos outros diminui .

Tantas descobertas fazem o adolescente ter de remanejar constantemente as novas relações socioafetivas que incorpora à vida. Ele descobre que lidar com o olhar do outro, com um corpo que não para de se desenvolver e com conflitos sobre sua própria identidade gera angústias que precisam de tempo e espaço para serem elaboradas. E aí o jovem se volta para seu mundo interno, como faz Camila*, 14 anos (leia o destaque abaixo). Lá, ele pode rever tudo o que se passa num espaço próprio, a salvo do julgamento dos outros. Esse contato com a subjetividade é essencial para sedimentar suas vivências - desde que o adolescente não substitua as relações do dia a dia por um isolamento permanente. "Nesse caso, professores e pais devem se aproximar, já que a ruptura com a infância pode deixar um vazio depressivo muitas vezes perigoso", explica Maria Cecília Corrêa de Faria, terapeuta especializada em Psicologia Clínica.
Ilustração: Daniella Domingues
CAMILA Pensando na vidaEu me sinto sozinha a toda hora... Daí vou pro meu quarto e fico pensando na vida. Acontece tanta coisa q é difícil entender! Eu sinto milhões de coisas ao mesmo tempo. Ficar sozinha ajuda a pensar nelas.
A exploração do mundo interior, além do reajuste emocional, também favorece a intelectualização. A psicanalista Anna Freud (1895-1982) concluiu que, para fugir momentaneamente das pulsões sexuais, os adolescentes costumam transferir essa energia para a racionalização e incorporação de informações. Não à toa, eles adoram emitir opiniões sobre tudo. Nesse caso, também deve-se atentar para os exageros. Aquele aluno que se preocupa de forma exagerada com o desempenho na escola pode estar querendo fugir de questões internas com as quais tem muita dificuldade em lidar.
O fato é que, apesar de ser um processo difícil, confuso e doloroso, a adolescência é um período em que se descobre como usar novas ferramentas emocionais para se relacionar com o mundo. À medida que integra as concepções que grupos, pessoas e instituições têm a respeito dele, compreendendo e assimilando os valores que constituem o ambiente social, o jovem reforça o sentimento de identidade. A escola tem um papel fundamental nesse processo. Ela jamais deve reduzir o comportamento do adolescente à pecha de rebeldia. Integrá-lo e respeitá-lo são as melhores formas de educar seres humanos confiantes e sadios.

Os destaques desta reportagem trazem depoimentos por um programa de troca de mensagens instantâneas pela internet de alunos do 9º ano da EMEF Victor Civita, em São Paulo. Os nomes foram trocados para preservar a identidade dos entrevistados.

Desafios de uma fase de ensino pouco explorada

Pesquisa coloca luz sobre as particularidades dos anos finais do Ensino Fundamental, em que ocorrem inúmeras mudanças na rotina escolar e na vida dos alunos


Desafios de uma fase de ensino pouco explorada. Ilustração: Gabriel Lora
Quando se buscam informações sobre as características da Educação Básica, é fácil encontrar um grande número de estudos sobre os primeiros anos do Ensino Fundamental, com ênfase no período de alfabetização. Educadores se debruçam sobre os pequenos que estão começando a vida escolar e buscam maneiras de garantir a eles uma aprendizagem significativa. Na outra ponta, são comuns também pesquisadores interessados em entender quem são e o que pensam os jovens que cursam o Ensino Médio, como eles se relacionam com o conhecimento e quais as expectativas que têm a respeito do futuro.

Pouco se fala, no entanto, sobre o segmento que liga esses dois extremos: os anos finais do Fundamental. Deixada de lado por grande parte dos estudiosos da área, essa fase enfrenta atualmente uma série de desafios na tentativa de encontrar uma identidade própria, capaz de dar conta de estudantes que estão deixando de ser crianças, mas ainda se encontram bem distantes da idade adulta.

Com foco nessa lacuna, foi lançada a pesquisa Anos Finais do Ensino Fundamental: Aproximando-se da Configuração Atual, da Fundação Victor Civita (FVC) em parceria com o Itaú BBA e a Fundação Itaú Social, realizada pela Fundação Carlos Chagas (FCC). Trata-se de um estudo exploratório com o objetivo de apresentar um panorama dessa fase e propor temas a serem aprofundados por outros pesquisadores. "A intenção foi apontar especificidades e desafios e, igualmente, subsidiar novos estudos sobre uma fase tão pouco investigada", diz Marina Muniz Rossa Nunes, pesquisadora da FCC, uma das autoras do estudo e orientadora educacional do Colégio Santa Cruz, em São Paulo (leia o relatório final da pesquisa).

Organizado em três etapas, o trabalho começou com um levantamento sobre o que tem sido proposto como orientação pública para os anos finais do Ensino Fundamental e uma análise de dados nacionais e regionais sobre essa fase, de modo a deixar claro qual a dimensão dela dentro da Educação Básica brasileira (leia o panorama abaixo). Em seguida, foram reunidas referências sobre as transformações vividas por crianças e adolescentes de 11 a 14 anos.

Informações teóricas analisadas, era o momento de ir a campo. A equipe escolheu duas escolas em São Paulo e duas em Maceió e, nelas, realizou entrevistas com docentes e alunos que hoje cursam o 9º ano, perguntando como avaliam o segmento que estão concluindo.

Para terminar, um relatório preliminar do estudo foi apresentado a um grupo de especialistas que analisou o material e trouxe contribuições para aprimorá- lo. "Pesquisas como essa são importantes por trazer informações para ajudar a melhorar a formação de professores", comenta Rosana Louro Ferreira Silva, doutora em Educação pela Universidade de São Paulo (USP), docente da Universidade Federal do ABC e uma das participantes do encontro.

Para começar, um pequeno histórico desse segmento

Entender os desafios do 6º ao 9º ano pressupõe conhecer os caminhos trilhados para chegarmos à configuração atual. Até 1970, o ensino obrigatório restringiase às quatro séries iniciais da escolaridade, que compunham o chamado primário. Para dar continuidade aos estudos, o aluno tinha de ser submetido a um exame de admissão para o ginásio. A avaliação funcionava como uma peneira capaz de reduzir drasticamente o número de estudantes no sistema, mantendo apenas aqueles com condições sociais e econômicas mais favorecidas. "Os professores traziam consigo a ideia de que iam trabalhar com alunos que já estavam prontos para estudar", explica Bernardete Gatti, pesquisadora-colaboradora da FCC e consultora técnica da FVC.

O cenário começou a mudar a partir de 1971, com a ampliação da escolaridade obrigatória para alunos de 7 a 14 anos, o fim dos exames de admissão e o aumento das vagas na rede pública.

Nesse período, o primário e o ginásio foram agrupados em um mesmo nível de ensino denominado primeiro grau. Isso, no entanto, não foi acompanhado por uma reorganização da escola, de modo a articular melhor anos iniciais e finais. "Essa ausência de continuidade retrata- se, nos anos 1980 e 1990, na reprovação e na evasão generalizadas entre a 4ª e a 5ª série", relembra o estudo.

Muitos anos se passaram, houve avanços importantes, como a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), em 1996, mas os problemas de descontinuidade e de fracasso escolar não foram resolvidos.

Questões imprescindíveis que continuam sem solução

O que se vê ainda hoje é uma ruptura considerável na rotina escolar dos anos iniciais para os anos finais e muita indefinição sobre como organizar essa fase. Embora haja políticas públicas federais, estaduais e municipais voltadas à Educação Básica, não há uma preocupação específica com o período do 6º ao 9º ano. Os anos finais "continuam esquecidos, comprimidos entre a primeira fase do Fundamental e o Médio", diz o estudo.

A articulação entre as fases da Educação é garantida pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica (DCNEB), propostas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) em 2010 com o objetivo de assegurar a continuidade dos processos de aprendizagem e o desenvolvimento cognitivo, emocional, social e moral dos alunos. Apesar disso, a integração ainda é um ponto vulnerável. Existem, é claro, iniciativas regionais de destaque, mas o país ainda carece de uma orientação geral. Entenda, nas próximas páginas, quais aspectos característicos dos anos finais devem ser incorporados ao debate.
Em números
Entenda quem são os alunos e os professores que fazem parte dessa fase do Fundamental

Distribuição Número de estudantes e docentes dos anos finais do Ensino Fundamental, dividido por região.
Número de estudantes e docentes dos anos finais do Ensino Fundamental, dividido por região. Ilustração: Gabriel Lora
BrasilFonte MEC - Censo Escolar 2011
ícone azul
Alunos 13.997.870
ícone laranja
Professores 793.889
Alunos

Localização Maioria estuda na zona urbana
Alunos - localiazação. Ilustração: Gabriel Lora
Fonte MEC - Censo Escolar 2011
Divisão por rede Estadual ainda é a que mais atende a esse segmento
Alunos - Divisão por rede. Ilustração: Gabriel Lora
Fonte MEC - Censo Escolar 2011
Atraso escolar Distorção idade-série é um problema
Alunos - Atraso escolar. Ilustração: Gabriel Lora
Fonte MEC - Censo Escolar 2010
Professores

Idade Fase tem docentes de diferentes faixas etárias
Professores - Idade. Ilustração: Gabriel Lora
Fonte MEC - Censo Escolar 2011
Formação A maior parte deles tem curso superior completo
Professores - Formação. Ilustração: Gabriel Lora
Fonte MEC - Censo Escolar 2011
Horário Maioria trabalha em um turno
Professores - Horário. Ilustração: Gabriel Lora
Fonte MEC - Censo Escolar 2011
Escolas Em geral, eles atuam em apenas uma instituição
Professores - Escolas. Ilustração: Gabriel Lora
Fonte MEC - Censo Escolar 2011

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

 

O que fazer quando seu filho não gosta do professor

Especialistas explicam como deve ser a conversa da família com a criança, com o educador e com a escola.


A criança chega em casa chateada, jogando a mochila no chão e reclamando da escola. Você ouve que o professor não gosta do seu filho ou que seu filho não gosta do professor. A reação natural de qualquer pai é ficar alarmado. Mas é preciso tentar manter a calma. A forma como você lida com a situação pode tornar as coisas muito melhores ou muito piores. Procurar uma resolução pacífica garante o melhor resultado para a vida escolar do seu filho, já que uma boa relação entre o aluno e o professor é um dos fatores que mais influenciam na aprendizagem, segundo a psicóloga e pedagoga Neide Saisi, da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).

Tanto adultos quanto adolescentes e crianças só aceitam que outra pessoa os ensine quando existe uma relação de confiança. "A pessoa só aprende com aqueles a quem ela delegou o direito de ensinar. E ela só dá esse direito a quem ela confia. É um processo inconsciente", explica a pedagoga. E para estabelecer essa confiança, primeiro é preciso criar um laço afetivo. A relação de afeto é fundamental principalmente nos primeiros anos de escola. Se a convivência com o professor é ruim, o aluno começa a rejeitar o processo de aprendizagem e se torna indócil e desinteressado. Por extensão, ele deixa de gostar da escola. "Ela deixa de ser um fato de desenvolvimento e aprendizado e passa ser um local de punição", diz Saisi.

Seu filho tem dificuldades nos estudos, notas baixas ou simplesmente tem mostrado o desejo de não ir para a escola? Vale a pena perguntar como anda o relacionamento dele com os professores. Nem sempre crianças e adolescentes deixam claro como é essa relação e os pais acabam não percebendo que esse é um dos fatores do problema.

A boa notícia é que na maioria das vezes é possível resolver o conflito por meio do diálogo. "Basta os dois lados estarem abertos", diz a psicóloga Sueli Conte, autora do livro "Bastidores de uma Escola" (Editora Gente) e atual diretora do Colégio Renovação, em São Paulo. Segundo ela, o primeiro passo é descobrir qual a origem da desavença, que pode ser resultado tanto do comportamento da criança ou até mesmo do docente. "O professor é um ser humano, ele também erra", explica Neide Saisi. Classes lotadas, estresse, problemas emocionais... Tudo isso pode levar o educador a ter atitudes inadequadas. "Mas normalmente ele é bem intencionado e está disposto a se corrigir se perceber se agiu de forma injusta", afirma Sueli Conte.

As especialistas dão quinze dicas para você resolver o problema do seu filho com o professor da melhor forma possível e garantir que a experiência dele na escola seja prazerosa e educativa.
 Todo mundo pode se enganar ao julgar o caráter dos outros. Crianças e adolescentes estão ainda mais sujeitos a se deixarem levar pelas emoções. "Eles podem interpretar a atitude do professor de forma errada", diz a psicóloga Sueli Conte. Antes de achar que o educador é um carrasco, ao menos leve em conta essa possibilidade. Acalme seu filho e peça para ele explicar melhor a situação.
 Se seu filho fizer afirmações genéricas como "minha professora é má", tente entender o que exatamente ele quer dizer com isso. Descubra o maior número de detalhes sobre a situação que o levou a pensar desse jeito. Será que a professora o humilhou na frente da classe ou apenas exigiu que ele fizesse o exercício? Segundo a psicóloga Sueli Conte, autora do livro "Bastidores de uma escola", é importante perguntar de maneira casual para que a criança não seja levada a exagerar a situação. Assim você pode julgar com clareza se a atitude foi realmente inadequada ou se a criança interpretou de maneira incorreta uma exigência razoável.
 Muitas vezes o aluno cria rancor do professor simplesmente porque não consegue entender o que ele está explicando. "Para existir afeto entre os dois, o mestre precisa respeitar o nível de desenvolvimento do aluno e sua personalidade", explica a psicopedagoga Neide Saisi, da PUC-SP. Alunos tímidos, por exemplo, podem acabar recebendo menos atenção e sentirem-se rejeitados. Tente entender qual a origem do conflito para estar preparado quando for conversar com o professor e com a escola.
 Se o aluno tem alguma defasagem de ensino ou dificuldade natural com uma disciplina específica, pode transferir o sentimento negativo para quem ministra a matéria. "Se não gosta do assunto, a criança ou adolescente também tende a ser mais indisciplinado, e consequentemente, mais repreendido", diz a psicopedagoga Neide Saisi, da PUC-SP. Nesse caso, explique a importância de aprender aquela disciplina, tente ajudá-lo com as tarefas e converse com a escola para que ele receba reforço. Aulas particulares também podem ajudar.
 Pode ser que ele não seja indisciplinado em casa, mas tenda a ultrapassar os limites na escola. Nem sempre as crianças se comportam da mesma forma nos dois ambientes. "Se a criança tem atitudes rebeldes e desafiadoras na sala de aula, a família tem de tentar resolver essa questão em casa", diz a psicóloga Sueli Conte, autora do livro "Bastidores de uma Escola" (Editora Gente). Mas não pergunte se ele fez algo de errado, isso pode parecer uma acusação. Peça a ele para pensar em quais atitudes poderiam estar deixando o professor bravo e ajude-o modificar esse comportamento.
 Desavenças familiares, brigas com colegas e até problemas de saúde podem levar as crianças e se tornarem agressivas na escola, segundo a psicopedagoga Neide Saisi, da PUC-SP. "É importante resolver fora da sala de aula tudo o que possa levar o aluno a ‘descontar’ suas frustrações nesse ambiente e acabar entrando em conflito com o professor", diz ela.




02/05/2012 16:03
Texto Letícia Mori
Educar
Foto: Nana Sievers
 

domingo, 29 de julho de 2012

quinta-feira, 26 de julho de 2012


 INDISCIPLINA


Sua paciência está por um fio. A garotada voa pelos corredores, conversa em sala, briga no recreio, insiste em usar boné e em trazer para a sala materiais que não são os de estudo. Cansado e confuso, você se sente com os braços atados e a autoridade abalada. Não suporta mais as cenas que vê e não sabe o que fazer. Quer obediência! Quer controle! Quer mudanças no comportamento dos alunos!

Calma... Respire... Se você sonha com uma turma atenta e motivada, a primeira mudança necessária talvez esteja em você. É hora de rever sua ideia de indisciplina e o que há por trás dela. Pesquisa realizada por NOVA ESCOLA e Ibope em 2007 com 500 professores de todo o país revelou que 69% deles apontavam a indisciplina e a falta de atenção entre os principais problemas da sala de aula. Doce ilusão! O comportamento inadequado do aluno não pode ser visto como uma causa da dificuldade para lecionar. Na verdade, ele é resultado da falta de adequação no processo de ensino.

Para que você avance nessa reflexão, é preciso entender que a indisciplina é a transgressão de dois tipos de regra. O primeiro são as morais, construídas socialmente com base em princípios que visam o bem comum, ou seja, em princípios éticos. Por exemplo, não xingar e não bater. Sobre essas, não há discussão: elas valem para todas as escolas e em qualquer situação. O segundo tipo são as chamadas convencionais, definidas por um grupo com objetivos específicos. Aqui entram as que tratam do uso do celular e da conversa em sala de aula, por exemplo. Nesse caso, a questão não pode ser fechada. Ela necessariamente varia de escola para escola ou ainda dentro de uma mesma instituição, conforme o momento. Afinal, o diálogo durante a aula pode não ser considerado indisciplina se ele se referir ao conteúdo tratado no momento, certo?

Não é fácil distinguir entre moralidade e convenção. Frequentemente, mistura-se tudo em extensos regimentos que pouco colaboram para manter o bom funcionamento da instituição e o clima necessário à aprendizagem em sala de aula. "As crianças não enxergam a utilidade de um regimento ou dos famosos combinados que não se sustentam. Elas não sentem a necessidade de respeitá-los e acabam até se voltando contra essas normas", explica Ana Aragão, da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

A situação piora ainda mais se essas convenções se baseiam em permissões, proibições e castigos sem nenhum tipo de negociação. Se isso funcionasse, as escolas estariam todas em paz. Esse caminho - o mais comum - é tão claramente ineficaz que se tornou um dos principais motes das tirinhas de Calvin, o personagem questionador e cheio de personalidade criado pelo cartunista norte-americano Bill Watterson. Desde 1985, ele dá um baile na professora, mesmo sendo advertido constantemente. Nesta reportagem especial, você verá que as situações vividas por ele refletem uma concepção equivocada, por parte da escola, sobre as causas da indisciplina e as formas de lidar com ela.
Universal Press Syndicate
FALTA DE AUTORIDADE O que se espera da escola é conhecimento. É isso que faz o aluno respeitar o ambiente à sua volta. Se a aula está um tédio, ele vai procurar algo mais interessante para fazer. Universal Press Syndicate.
 
 
Sem sua ajuda, a criança não aprende o valor das regras 
O movimento contínuo de construção e reavaliação de regras, mais o respeito a elas, é a base de todo convívio em sociedade. Da mesma forma que os conflitos nunca vão deixar de existir na vida em comunidade - no contexto escolar, especificamente, eles também não vão desaparecer. Saber lidar com eles faz com que você consiga trabalhar melhor. Ensinar o tema aos alunos também é uma tarefa sua. "Esperar que os pequenos, de modo espontâneo, saibam se portar perante os colegas e educadores é um engano. É abrir mão de um dever docente", explica Luciene Tognetta, do Departamento de Psicologia Educacional da Faculdade de Educação da Unicamp.

Muitos professores esperam, sem razão, que essa formação moral seja feita 100% pela família. "Não se trata de destituí-la dessa tarefa, mas é preciso enxergar o espaço escolar como propício para a vivência de relações interpessoais", pondera Áurea de Oliveira, do Departamento de Educação da Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (Unesp), campus de Rio Claro.

As questões ligadas à moral e à vida em grupo devem ser tratadas como conteúdos de ensino. Caso contrário, corre-se o risco de permitir que as crianças se tornem adultos autocentrados e indisciplinados em qualquer situação, incapazes de dialogar e cooperar. Pesquisa de 2002 com 120 universitários, de Montserrat Moreno e Genoveva Sastre, da Universidade de Barcelona, indagou sobre a utilidade do que eles aprenderam na escola para a resolução de conflitos na vida adulta. Apenas 3% apontaram que os professores lhes ensinaram atitudes e formas específicas de agir. "Esses resultados certamente são próximos da realidade brasileira", afirma Luciene. "Nosso estilo de ensinar é parecido, pois joga pouca luz sobre o currículo oculto, aquele que leva em conta o sentimento do estudante, seus desejos, suas incompreensões."
Universal Press Syndicate
DIDÁTICA INADEQUADA Não adianta exigir que os alunos cumpram as tarefas se a estratégia de ensino e o tema não dizem nada a eles. Universal Press Syndicate
 Em vez de agir sobre a consequência, procurar a causa 
Saber como o ser humano se desenvolve moralmente é essencial para encontrar as raízes da indisciplina. Antes de entender por que precisam agir corretamente, as crianças pequenas vivem a chamada moral heterônoma, ou seja, seguem regras à risca, ditadas por terceiros, sem usar a própria consciência para reelaborá-las de acordo com a situação. Por exemplo: se elas sabem que não se deve derramar água no chão, julgam o fato um erro mesmo no caso de um acidente. Nessa fase, a autoridade é fundamental para o bom andamento das relações.

Por volta dos 9 anos, abre-se espaço para a moral autônoma, quando o respeito mútuo se sobrepõe à coação. Mas a mudança não é mágica. O cientista suíço Jean Piaget (1896-1980) questionava a possibilidade de a criança adquirir essa consciência se todo dever sempre emana de pessoas superiores. Assim, é possível dizer que a autonomia só passa a existir quando as relações entre crianças e adultos (e delas com elas mesmas) são baseadas, desde a fase heterônoma, na cooperação e no entendimento do que é ou não é moralmente aceito e por quê. Sem isso, é natural que, conforme cresçam, mais indisciplinados fiquem os alunos.

A atuação docente inadequada em sala é outra causa da indisciplina. "Embora os professores anseiem por uma solução, acham-se perdidos por não poder agir com a rigidez de antigamente, que permitia até alguns castigos físicos", afirma Áurea. A autoridade do professor perante a classe só é conquistada quando ele domina o conteúdo e sabe lançar mão de estratégias eficientes para ensiná-los. Se não, como bem descreve o psicólogo austríaco Alfred Adler (1870-1937), a Educação se reduz ao ato de o aluno transcrever o que está no caderno do professor sem que nada passe pela cabeça de ambos. "O resultado é o tédio. E gente entediada busca algo mais interessante para fazer, o que muitos confundem com indisciplina. A escola é, sem dúvida, a instituição do conhecimento, mas é preciso deixar espaço para a ação mental da turma", afirma Luciene.

Olhar para a sala de aula tendo como base essa concepção de indisciplina faz diferença. Os benefícios certamente serão maiores se houver o envolvimento institucional. Por isso, o trabalho exige não apenas autorreflexão mas também formação e esforço de equipe. Para transformar o ambiente, o discurso tem de ser constante e exemplificado por ações de todos (leia reportagem sobre como lidar com o problema e um projeto institucional para a formação da equipe).
Universal Press Syndicate
REGRAS IMPOSTAS Quando a conversa é sempre proibida, você perde a chance de favorecer a troca de ideias. Universal Press Syndicate
 
fonte revista Nova Escola
 

Como se resolve a indisciplina?

Não há solução fácil. Mas é essencial trabalhar - como conteúdos de ensino - as questões relacionadas à moral e ao convívio social e criar um ambiente de cooperação

Anderson Moço (anderson.moco@abril.com.br). Colaborou Thais Gurgel

Paulo Vitale. Clique para ampliar


As estratégias usadas atualmente por grande parte dos professores para lidar com a indisciplina têm sido desastrosas e estão na contramão do que os especialistas apontam ser o mais adequado. O teste ao lado é uma forma de mostrar que é preciso rever conceitos. Não se assuste se você pensou que alguns dos itens estivessem corretos - a maioria dos docentes brasileiros tende a concordar com eles. Pesquisa realizada em 2008 pela Organização dos Estados Ibero-Americanos com cerca de 8,7 mil professores mostrou que 83% deles defendem medidas mais duras em relação ao comportamento dos alunos, 67% acreditam que a expulsão é o melhor caminho e 52% acham que deveria aumentar o policiamento nas escolas.

Se a repreensão funcionasse, a indisciplina não seria apontada como o aspecto da Educação com o qual é mais difícil lidar em sala de aula, como mostrou outra pesquisa, da Fundação SM, feita em 2007 com 3,5 mil docentes de todo o país. Até mesmo os alunos acreditam que o problema vem crescendo. Em investigação feita em 2006 por Isabel Leme, da Universidade de São Paulo (USP), com 4 mil estudantes das redes pública e privada de São Paulo, mais de 50% deles afirmaram que os conflitos aumentaram mesmo nas escolas que estão cada vez mais rígidas. "O problema é que as intervenções são muito pontuais e imediatistas. O resultado é uma piora nas relações entre alunos e professores e, consequentemente, no comportamento da turma", acredita Adriana de Melo Ramos, do Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação Moral (Gepem), da Unesp, campus de Rio Claro.

Nesta reportagem, apresentamos sete soluções para você encaminhar o problema. Não se trata de um manual de instruções. As questões ligadas à indisciplina são da natureza humana. Portanto, complexas e incertas. Esse é um ponto de partida para quem convive com o problema. Para se sair bem, é preciso estudar muito e sempre revisitar o tema. Veja também um projeto institucional para a formação da equipe.

Calvin e seus amigos
FALTA DE AUTORIDADE
O que se espera da escola é conhecimento. É isso que faz o aluno respeitar o ambiente à sua volta. Se a aula está um térdio, eke vai procurar algo mai interessante para fazer

Distinguir as regras morais das convencionais e discuti-las

Erro comum em regimentos escolares é situar regras morais e convencionais num mesmo patamar. "As morais merecem mais atenção", afirma Telma Vinha, do Gepem da Unicamp. Já as convencionais estão mais ligadas ao andamento do trabalho. Ao distingui-las, você será capaz de interpretar melhor uma transgressão e, assim, encaminhá-la adequadamente.

Não mentir é um exemplo clássico de regra moral. O princípio ético em jogo, nesse caso, é a honestidade. Trata-se, portanto, de um preceito inegociável. Quando algum aluno mente, a solução passa por uma boa conversa - prática imprescindível já na Educação Infantil. Desde essa fase, é importante explicar para a criança como se sente o colega que foi enganado e mostrar que isso é errado. Pergunte: "E se fosse com você?"

Regras convencionais, por sua vez, têm seu fundamento na negociação e na clareza de definição. Tome o exemplo da conversa. Mesmo numa sala que está barulhenta porque os jovens realizam um trabalho em grupo - e em função disso trocam ideias sobre um tema proposto -, o silêncio será necessário em algum momento. É preciso estar acertado que, quando um aluno ou você precisarem da atenção, o grupo deve parar para ouvir o que será dito. Também são consideradas regras convencionais não usar boné e ir para escola sempre de uniforme. Nesse grupo, entram imposições que em nada afetam o processo de ensino e aprendizagem. Há escolas em que o uso do uniforme é uma questão de segurança, pois ele permite identificar quem é ou não aluno. Em outras, isso pode não ser necessário. No caso do boné, é difícil encontrar uma justificativa válida, motivo pelo qual a regra é tão contestada. Normas desse tipo precisam de constante revisão e discussão (na tira abaixo, a professora de Calvin mistura, sem sentido, a solidariedade com a proibição do chiclete).

Calvin e seus amigos
DIDÁTICA INADEQUADA
Não adianta exigir que os alunos cumpram as tarefas se a estratégia de ensino e o tema não dizem nada a eles.

Equilibrar de maneira justa sua reação a um problema

Analisar a quebra de uma regra sob a ótica da moral e da convenção facilita equilibrar a resposta ao problema. É sempre importante avaliar a real gravidade da transgressão (abaixo, o pavor de Calvin mostra como o exagero da expulsão parece ser comum). Um exemplo relatado por Telma mostra como uma ação desigual é temerosa. Ela conta que uma professora mandou para a diretoria um jovem que se recusou a tirar o boné. Logo depois, uma garota a procurou, dizendo ter sido xingada de "piranha". E ela disse apenas: "Não ligue. Você não é peixe".

Já num caso de dano ao patrimônio, ocorrido no Colégio Comunitário de Campinas, a 100 quilômetros de São Paulo, o orientador educacional soube dosar sua atitude. Empenhado em descobrir quem danificava as carteiras, ele pediu que os próprios culpados se identificassem, reforçando a ideia de que a delação é inaceitável (leia o quadro abaixo).
Uma boa conversa
O problema Carteiras do Colégio Comunitário de Campinas apareceram com moedas coladas.
A solução A direção pediu ajuda aos alunos: "Temos um problema e precisamos da colaboração de vocês". Quando mais carteiras apareceram, mas com o adesivo ainda fresco, ficou evidente que o problema vinha do 9º ano, que acabara de deixar a sala. O orientador educacional Marcos Roberto Márcio pediu que os responsáveis se identificassem: "Isso prejudica a imagem da classe, gera tumulto e um clima ruim". Consciente, a turma pediu que os culpados assumissem, já que a delação, moralmente condenável, não é aceita pela escola. "Admitir a culpa não isenta a punição, mas é uma atitude responsável, que atenua o que fizeram", diz. Quatro garotos se manifestaram e tiveram de apresentar uma pesquisa sobre a legislação referente ao respeito ao patrimônio público, além de limpar as carteiras.
Os conflitos entre alunos e entre eles e os professores também são problemáticos. Uma pesquisa da USP feita por Isabel Leme, em 2006, com 55 diretores, mostrou que a gestão de conflitos é apontada por 85% deles como fundamental para garantir a paz na escola. A prática, porém, é outra. Procura-se evitar os conflitos, vistos como algo antinatural, que deixa os educadores assustados e inseguros. Câmeras, inspetores e marcação cerrada são exemplos disso. "Mas, se as desavenças fazem parte da vida dos adultos, por que com crianças e jovens seria diferente?", pondera Telma.

Com isso, gasta-se tempo tentando impedir ou antecipar qualquer tipo de encrenca. Quando algo foge desse imaginado controle, o impulso é mandar para a diretoria ou censurar. "O ideal é respirar, tentar se controlar e reconhecer que o embate pertence aos envolvidos. No caso de uma discussão mais quente entre a garotada, o caminho é relatar o que você viu com linguagem descritiva e ouvir as partes. "Peça que todos contem como se sentiram e por que discutiram. Isso demonstra respeito pelos valores de cada um", sugere Vanessa Vicentin, da Universidade de Franca (Unifran). Quando o conflito é com você, comporte-se sempre com sabedoria. "A agressão não é pessoal, mas contra um fato com o qual o aluno não concorda", diz Telma. E, claro, nem sempre haverá saída, já que as relações humanas são complexas. É preciso ter paciência. A aprendizagem é gradual e resulta da reflexão contínua, do diálogo e da coerência nos procedimentos. "Os mediadores desse processo devem se pautar por ações transparentes e convictas", diz Maria Teresa.
Calvin e seus amigos
REGRAS IMPOSTAS
Quando a conversa é sempre proibida, você perde a chance de favorecer a troca de ideias


Conquistar autoridade com o saber e o respeito ao aluno

Ficar irritado, gritar e castigar os que não se comportam como você quer - atitudes autoritárias e retrógradas - não adianta nada. Quando se tenta impor disciplina, a submissão e a revolta aparecem. "Hoje, isso não se sustenta mais. O mundo é outro", acredita Telma.

Seu papel na construção é conhecer como se dá a aprendizagem e, com base nessa compreensão, planejar as aulas, além de ter segurança sobre o conteúdo a ser trabalhado. A medida parece muito básica - e é. Ela vale para manter a disciplina e para chegar ao objetivo principal: fazer com que todos aprendam.

Os caminhos também não são nada que esteja fora de seu alcance. "É preciso diversificar a metodologia, pois interagimos com alunos conectados ao mundo por diferentes redes e ferramentas", acredita Maria Tereza Trevisol, da Universidade do Oeste de Santa Catarina, campus de Joaçaba. Vale promover mais participação de todos em situações desafiadoras que deem protagonismo a cada aluno. Pesquisas feitas por ela mostram que os alunos querem que o professor tenha autoridade também para resolver os conflitos em sala, antes de recorrer à direção (veja na tirinha abaixo como Calvin vive essa situação).

Um ponto de atenção: o desrespeito do professor em relação aos alunos também alimenta a indisciplina. Quase 25% dos estudantes afirmam ser vítimas disso de vez em quando - e mais de 12%, que o fato ocorre com frequência. Quem nunca ouviu uma criança reclamando: "Nem me ouviu e já me colocou para fora"? Outra situação corriqueira é a da desconfiança: "Você precisa mesmo ir ao banheiro ou está querendo passear?"

Que tipo de relação se espera formar com atitudes como essas? A análise do próprio comportamento é fundamental. "Falta sensibilidade moral aos professores que tiram sarro do aluno, uma situação, infelizmente, bem comum. Nesses casos, o respeito adquire um caráter unilateral", afirma Adriana. Assim, a ofensa à autoridade passa a ser encarada como mais grave do que a que se dá entre os colegas. "Por exemplo, se um aluno xinga o professor, ele corre um grande risco de ser expulso. Mas, quando esse mesmo aluno pratica bullying, ninguém toma nenhuma atitude", analisa Telma. A mensagem passada em situações desse tipo é: respeite aquele que manda e maltrate quem é igual ou menor que você.
Mais interação
O problema Em 2006, a Escola Ativa, em Itapira, a 174 quilômetros de São Paulo, estava abrindo a 5ª série, com 12 alunos, que lá estudavam desde a 1ª. O fato de a turma ser pequena, que parecia uma vantagem, se tornou um problema. O adolescentes se comunicavam pelo olhar. Conversavam em aula e começaram a mentirpara os professores. A um, diziam que haviam feito tal combinado com outro, o que não era verdade.
A solução A equipe se reuniu e definiu novas pautas de estudo. "Tivemos de melhorar a interação entre os professores e acordamos novas regras e o que não poderia ser negociado", explica a diretora, Andrea Stevanatto Bataglini. Debates foram realizados com a turma e os dilemas morais ganharam mais espaço nas aulas. A relação entre professores e alunos foi revista, de modo a levar os estudantes a pensar se estavam agindo moralmente com quem lhes respeitava. "Hoje eles estão no 9º ano e a situação nunca mais se repetiu", conta Andrea.
Calvin e seus amigos
NÃO CONFUNDA REGRAS
Proibir o chiclete é uma convenção (questionável, por sinal). Ser solidário é uma regra moral. Nesse caso, a professora de Calvin misturou tud.

Ter como objetivo construir um ambiente cooperativo

Ninguém, em sã consciência, pode deixar a turma fazer o que quiser, num regime anárquico. Longe disso. Um dos maiores desafios é, portanto, construir um ambiente cooperativo, no qual os alunos tenham voz, sejam respeitados e aprendam a respeitar. Isso faz com que o comportamento seja adequado naturalmente e não por medo de sanções (no quadrinho abaixo, Calvin e Susi mostram a que ponto pode chegar a situação quando há temor em relação aos possíveis castigos).

Numa escola da rede municipal de Rio Claro, a 184 quilômetros de São Paulo, as agressões entres os alunos eram comuns. A situação foi contornada quando se deu mais espaço para que eles se manifestassem e procurassem juntos a solução para os conflitos (leia quadro abaixo).
Formação e assembleia
O problema No ano passado, as agressões físicas e verbais estavam se tornando cada vez mais graves e frequentes na EMEFI Antonio Maria Marrote, em Rio Claro.
A solução A coordenadora pedagógica Rosemeire Archangelo propôs um programa de formação aos professores e funcionários. Nele, todos trabalharam a redefinição do conceito de indisciplina, questões relacionadas a respeito e moral e a necessidade de trabalhar esses conteúdos. Foram implementadas assembleias em cada sala, durante as quais os problemas tinham de ser debatidos. A ideia era ajudar no desenvolvimento moral de todos. "As professoras achavam que não ia funcionar e me diziam: como um aluno de 1ª série vai debater esses problemas?", conta. "Todas se surpreenderam. Com o projeto, elas comprovaram que é possível, sim, que as crianças resolvam conflitos com o diálogo", completa. A escola não virou o paraíso, mas todos aprenderam e passaram a praticar outras formas de se relacionar e conviver com as diferenças no dia a dia.
É claro que essa perspectiva não o exime de exercer a figura da autoridade moral e intelectual - nunca autoritária - como o coordenador do processo educacional. Afinal, além de conhecer os objetivos pedagógicos, é você o adulto da situação. A negociação é a palavra. E ela tem de ser justa. Não vale induzir os estudantes a conclusões e normas que somente um dos lados - o seu - queira ver implantadas. Isso seria um trabalho de fachada, no mínimo, desonesto. "Essa postura ajuda a romper com a dicotomia tradicional daquele professor mandão versus o bonzinho porque pressupõe uma busca pelo equilíbrio nas relações", explica Telma. "Mas isso tem de ser construído gradativamente pelo grupo, com base no respeito mútuo, na reciprocidade e nos princípios de justiça", completa a especialista.
Calvin e seus amigos
EQUILIBRE AS AÇÕES
Calvin provavelmente não fez nada grave, mas a expectativa do castigo desproporcional mostra como a escola parece estar acostumada a regir de maneira inadequada


Agir na hora certa e sempre manter a calma

Mesmo que você aja da forma mencionada nos itens anteriores, em momentos conturbados na sala você tem de manifestar desagrado com relação a comportamentos inadequados. Quando um aluno insiste em conversar sobre o fim de semana durante a explicação de uma atividade, não basta fazer pequenas mudanças, como colocar a carteira do bagunceiro ao lado da sua mesa, como forma de castigá-lo, e continuar a aula normalmente. Isso não ajuda a resolver o problema em si nem leva a turma a aprender. É preciso chamar a atenção, mas sempre com respeito e mostrando que o grupo é que está sendo prejudicado, e não apenas você, pessoalmente. Tratar o estudante dessa forma faz com ele também perceba como agir em momentos de conflito.

Ficar alerta porque a indisciplina nunca acaba

Esse trabalho não tem fim. Mesmo que a equipe já esteja atenta e capacitada para encarar a indisciplina sob esse prisma mais amplo, é preciso manter o tema vivo. Primeiro porque a escola está sempre em movimento. A cada ano, chegam novos professores e alunos, que podem não estar alinhados com essa visão. Segundo porque diferentes casos de indisciplina vão continuar aparecendo.

A Escola Ativa de Itapira, a 174 quilômetros de São Paulo, já nasceu tendo como um dos seus objetivos o desenvolvimento moral dos alunos. A equipe é formada dentro dessa linha, mas isso não a isenta de situações de mau comportamento, como a que aconteceu com os alunos da 5ª série, que estavam mentindo para o grupo de professores (leia quadro abaixo).
Mais interação
O problema Em 2006, a Escola Ativa, em Itapira, a 174 quilômetros de São Paulo, estava abrindo a 5ª série, com 12 alunos, que lá estudavam desde a 1ª. O fato de a turma ser pequena, que parecia uma vantagem, se tornou um problema. O adolescentes se comunicavam pelo olhar. Conversavam em aula e começaram a mentirpara os professores. A um, diziam que haviam feito tal combinado com outro, o que não era verdade.
A solução A equipe se reuniu e definiu novas pautas de estudo. "Tivemos de melhorar a interação entre os professores e acordamos novas regras e o que não poderia ser negociado", explica a diretora, Andrea Stevanatto Bataglini. Debates foram realizados com a turma e os dilemas morais ganharam mais espaço nas aulas. A relação entre professores e alunos foi revista, de modo a levar os estudantes a pensar se estavam agindo moralmente com quem lhes respeitava. "Hoje eles estão no 9º ano e a situação nunca mais se repetiu", conta Andrea.

Calvin e seus amigos
PRESERVE A AUTORIDADE
Em vez de resolver a questão, a professora de Calvin transfere o problema para o diretor que tinha muito menos condições do que ela de intervir na situação

Incentivar e respeitar a autonomia do aluno

Os problemas de comportamento podem ser um jeito de as crianças mostrarem a você que uma regra é desnecessária ou não está funcionando. Em outras situações, elas esperam chamar a atenção e solicitar que você se aproxime e se interesse pelas ideias delas (na tirinha abaixo, Calvin segue desconsolado para a sala do diretor, face ao desdém da professora diante de sua criatividade). "É como se pedissem por cuidado e apreço ou ainda que se delimite o que se deseja delas com o que está sendo realizado", explica Maria Teresa.

Convivendo num ambiente em que atitudes como essas sejam o padrão, a criança vai, aos poucos, adquirindo autonomia e ficando mais apta a tomar decisões responsáveis. Cada aluno, em diferentes situações, coloca sempre novos desafios. Ele necessita de referências e de orientação. O que ele espera é ajuda para pensar. É importante que alguém - na escola, você - coloque as regras, até que, efetivamente convictos, crianças e jovens possam gerenciá-las e, de forma autônoma, viver bem em sociedade.
Calvin e seus amigos
PROMOVA A COOPERAÇÃO
O clima pautado na colaboração e no respeito é mais eficiente porque não expõe as crianças, como Calvin e Susi, ao medo das sanções

Calvin e seus amigos
VALORIZE A AUTONOMIA
Uma aparente indisciplina, como esta bela atuação de Calvin, pode, na verdade, ser uma maneira de o aluno dizer que quer fazer as coisas de um jeito diferente

Por que jovens de 15 a 17 anos estão na EJA

Conheça os motivos que fazem com que adolescentes estudem na Educação de Jovens e Adultos

Elisângela Fernandes (novaescola@atleitor.com.br). Colaboraram Anderson Moço, de Juazeiro do Norte, CE, Aurélio Amaral, de Sertãozinho, SP, Beatriz Vichessi, de Marabá, PA, Rodrigo Ratier, de Teresina, PI, e Verônica Fraidenraich, de Curitiba, PR


Ilustração de Fabrícia Batista com fotos de Benonias Cardoso, Gustavo Lourenção, Janduari Simões, Marcelo Almeida e Raoni Maddalena

A presença de adolescentes na Educação de Jovens e Adultos (EJA) no Ensino Fundamental é preocupante: quase 20% dos matriculados têm de 15 a 17 anos. O número de alunos dessa faixa etária na modalidade não tem sofrido grandes variações nos últimos anos, apesar da queda no total de matrículas (28,6%). Dados da Ação Educativa com base nos Censos Escolares indicam que, em 2004, eram 558 mil estudantes e, em 2010, 565 mil. O cenário tem chamado a atenção dos especialistas da área. Por que esses adolescentes estão frequentando a modalidade, em vez de estar na Educação Básica regular? São vários os motivos (leia na última página os depoimentos de 13 estudantes). Alguns extrapolam os muros da escola, enquanto outros têm a ver diretamente com a qualidade da Educação, ou seja, envolvem o Ministério da Educação (MEC), Secretarias Municipais e Estaduais, gestores e, é claro, os professores que lecionam na modalidade.

Três grandes questões sociais fazem com que, todos os anos, muita gente desista de estudar ou então deixe a sala de aula temporariamente:

- Vulnerabilidade Muitos estudantes enfrentam problemas como a pobreza extrema, o uso de drogas, a exploração juvenil e a violência. "A instabilidade na vida deles não permite que tenham a Educação como prioridade, o que os leva a abandonar a escola diversas vezes. Quando voltam, anos depois, só resta a EJA", diz Maria Clara Di Pierro, docente da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP).

- Trabalho A necessidade de compor a renda familiar faz com que muitos alunos deixem o Ensino Fundamental regular antes de concluí-lo. O estudo Jovens de 15 a 17 Anos no Ensino Fundamental, publicado este ano na série Cadernos de Reflexões, do MEC, revela que 29% desse público que está matriculado do 1º ao 9º ano já exerce alguma atividade remunerada, sendo que 71% ganham menos de um salário mínimo. A dificuldade de conciliar os estudos com o trabalho faz com que mudar para as turmas da EJA, sobretudo no período noturno, seja a única opção.

- Gravidez precoce A chegada do primeiro filho ainda na adolescência afasta muitos da sala de aula, principalmente as meninas, que param de estudar para cuidar dos bebês e, quando conseguem, retornam à escola tempos depois, para a EJA. Assim, não estudam com colegas bem mais novos e concluem o curso em um tempo menor. Segundo a Fundação Perseu Abramo, 20% dos meninos que largaram os estudos tiveram o primeiro filho antes dos 18 anos. Entre as mulheres, esse percentual é de quase 50%. Dessas, 13% se tornaram mães antes dos 15 anos, 15% aos 16 anos e 19% aos 17 anos.

O sistema educacional e seus problemas

Os demais motivos que levam a garotada a se matricular na EJA têm a ver com a falta de qualidade do sistema de ensino e suas consequências:

- Reprovação e evasão O estudo do MEC aponta que a repetência de 17,4% na 7ª série e 22,6% na 8ª série só não é maior devido ao aumento da evasão escolar. Em 2005, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) divulgou que a taxa de evasão cresce continuamente ao longo dessa etapa de Educação (na 1ª série é de 1%, na 5ª, de 8,3%, e na 8ª, de 14,1%).

- Distância da escola no campo Reunir alunos da zona rural em uma só escola núcleo é uma saída das redes para garantir que os professores alcancem o número mínimo de aulas e reduzir os gastos com infraestrutura e transporte. Isso, no entanto, nem sempre é positivo para muitos dos alunos: a distância passa a ser mais um empecilho para que sigam estudando.

- Desmotivação Sem se interessar pelo que a escola oferece, vários adolescentes deixam de frequentar as aulas e só tempos depois retornam, cientes da importância dos estudos. Não só o currículo mas também a forma como ele é trabalhado provocam o desinteresse. "Às vezes, frequentar a igreja ou assistir à televisão são atividades mais atraentes do que o conteúdo das disciplinas", diz Eliane Ribeiro Andrade, professora da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UFRJ). Adequar as aulas às necessidades dos alunos que têm mais de 15 anos e ainda estão no Ensino Fundamental, e não esperar que o contrário ocorra, é um desafio. "Isso é possível quando são propostas diferentes estratégias para ajudá-los a superar as dúvidas e dificuldades do cotidiano", explica Cleuza Repulho, presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) e secretária de Educação de São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo.

- Decisão do gestor Trata-se da atitude irresponsável de empurrar casos considerados problemáticos para as turmas de EJA. Dessa forma, os diretores buscam se livrar da indisciplina e evitar que os resultados da escola nas avaliações externas piorem, o que impacta o cálculo do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Um verdadeiro processo de higienização do Ensino Fundamental, que reconhece as turmas de EJA como algo menor e sem importância. Para superar o problema, é preciso investir em formação e conscientização dos gestores.


Solução para o problema está distante

Segundo Roberto Catelli Júnior, coordenador de projetos da Ação Educativa, a procura dos adolescentes entre 15 e 17 anos por vagas na modalidade deve se manter por um bom tempo, já que a taxa de conclusão do Ensino Fundamental na idade correta é muito baixa. Para ter uma dimensão do problema, somente seis em cada dez estudantes de 16 anos concluíram o 9º ano ou a 8ª série em 2009, segundo o movimento Todos pela Educação. "Os jovens que estão na EJA hoje já passaram pela escola regular e ela, por sua vez, não deu conta de garantir a eles a aprendizagem. Tempos depois, esses adolescentes retornam, dando mais uma chance para a instituição, que não pode desperdiçá-la", diz Cleuza.

Também podem estar entre os alunos da modalidade nos próximos anos aqueles que estão fora da escola atualmente. O mais recente levantamento a respeito feito pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) revela que 570 mil meninas e meninos entre 7 e 14 anos estão excluídos do sistema educacional brasileiro. Na população entre 15 e 17 anos, são cerca de 1,5 milhão.

Em 2007, o Conselho Nacional de Educação (CNE) discutiu a possibilidade de elevar para 18 anos a idade mínima para o ingresso no Ensino Fundamental da EJA (hoje, é exigido ter 15 anos). A medida, que tinha como objetivo proibir o ingresso de adolescentes na modalidade, não foi aprovada pelo MEC. Para Elaine, da UFRJ, a decisão foi acertada. "Em um mundo ideal, a proposta é muito boa. Mas não podemos tirar a oportunidade de milhares de adolescentes de estudar. Quanto mais possibilidades de atender essa população, maiores as chances de garantir a permanência na escola e a conclusão dos estudos."

Assim, colocá-los muitas vezes em turmas em que estudam colegas idosos não chega a ser um problema. Quando a gestão funciona, os professores são bem formados e o currículo é organizado levando em conta a pluralidade de idades, o clima pode ser harmonioso, e o contato com pessoas de idades diferentes, positivo. Quando o jovem está sozinho em meio a colegas mais velhos, no entanto, sente falta de se relacionar com pessoas da mesma faixa etária. "Não há regra. O problema é que nem sempre os professores estão preparados para resolver os problemas que surgem, como conflitos de opiniões entre gerações diferentes", explica Maria Clara, da USP.

No âmbito mais amplo, no que se refere à gestão do sistema, os governos municipal, estadual e federal precisam atuar em conjunto com as Secretarias de Educação para atacar os problemas relacionados à vulnerabilidade, à gravidez na adolescência e ao ingresso precoce no mercado de trabalho. E as Secretarias, em parceria com as escolas, devem trabalhar para reduzir o tamanho das turmas para atender todos de modo adequado, assegurar o transporte escolar, selecionar material didático específico e garantir a formação dos professores. Este ano, há mais de 18 mil vagas em cursos para quem leciona para EJA, diz Carmem Gatto, coordenadora da modalidade no MEC.

Ignorar a urgência dessas tarefas só vai fazer com que a situação piore e comprometa as poucas boas notícias da área, como a pequena taxa atual do analfabetismo entre 15 e 18 anos, cerca de 1,5%.


Estudantes da EJA explicam seus motivos
Geraldo
Trabalho "Comecei a trabalhar com 5 anos. Desisti de ir para a escola no 5º ano. Hoje trabalho com uma carroça, mas já sei dirigir carro e moto. Já fui pedreiro e vez ou outra faço uns bicos de ajudante. Vou terminar a escola para ter um emprego melhor."

Geraldo Ribeiro do Nascimento, 15 anos, aluno do 3º ciclo da EJA (7ª e 8ª séries), em Juazeiro do Norte, CE.
João
Distância da escola "Resolvi estudar à noite, na EJA, porque à tarde levo e busco meus irmãos na escola, que fica a 4 quilômetros da nossa casa. A prioridade é que eles, que são menores, não faltem nunca. Quando não tem carona, ando 24 quilômetros por dia para levá-los, buscá-los e para eu mesmo ir e voltar da escola."

João Paulo das Neves Martins, 16 anos, aluno do 4º ciclo da EJA (7ª e 8ª séries), em Marabá, PA.
Jordan
Reprovação "Fui reprovado três vezes por indisciplina. Minha avó também foi aluna da EJA e me ajudou a mudar. Na sala, os alunos mais velhos são comportados, mas são legais. A história de vida deles serve de exemplo para quem é mais novo. Quero fazer um curso técnico de mecatrônica."

Jordan Germano Castelaci, 15 anos, aluno do 4º ciclo da EJA (7ª e 8ª série), em Curitiba.
Poliana
Decisão do gestor "Por nota, só repeti a 2ª série. Nos outros quatro anos, fui reprovada porque sempre abandonava a escola. Era uma aluna problema, brigava muito e matava várias aulas. Por isso, me mandaram para a EJA. Hoje, continuo estudando porque quero melhorar minha vida."

Poliana Maria da Silva, 15 anos, aluna do 4º ciclo da EJA (7ª e 8ª séries), em Juazeiro do Norte, CE.
Mari
Evasão "Entrava na escola e logo saía. Achava que não aprendia nada. Só aos 15 anos comecei a levar os estudos a sério. Casei há dois anos e minha sogra me incentivou a voltar. Para tudo nessa vida, tem de estudar. Hoje, se estou com dificuldades, procuro o professor. Meu sonho é ser médica e vou correr atrás disso."

Mari Taís da Silva, 19 anos, aluna do 3º ciclo da EJA (5ª e 6ª séries), em Juazeiro do Norte, CE.
Marcelo
Trabalho "Saí da escola para tentar ser jogador de futebol no time do Fortaleza. Passei na peneira, mas fui dispensado porque não estava estudando. Perdi a grande chance da minha vida porque deixei a escola. Voltei porque quero fazer administração."

Marcelo José da Silva, 16 anos, aluno do 3º ciclo da EJA (7ª e 8ª séries), em Juazeiro do Norte, CE.
Cosme
Decisão do gestor "Sempre trabalhei como pintor e repeti uma única vez. Este ano, mudei de escola porque a diretora me mandou para a EJA. Na minha sala, somos apenas oito alunos jovens. O restante da turma é formado só por pessoas mais velhas. Sinto falta do colégio anterior, principalmente dos meus amigos."

Cosme Monteiro da Silva, 15 anos, aluno do 4º ciclo da EJA (7ª e 8ª séries), em Teresina, PI.
Taís
Reprovação "Faltava muito e por isso repeti o 2º ano, depois o 3º, o 4º e o 5º. Quando fui reprovada no 6º, decidi ir para a EJA. Estava me sentindo velha, meus colegas eram pequenos. Aqui sou a mais nova, mas me sinto à vontade. Tem gente de todas as idades."

Taís Daniele Cardoso, 16 anos, aluna do 3º ciclo da EJA (5ª e 6ª séries), em Sertãozinho, SP.
Jessislane
Trabalho "Durante o dia, trabalho em uma casa de família e à noite vou para a escola. Prefiro frequentar as turmas da EJA porque as aulas são mais tranquilas, não tem bagunça. A minha vontade é fazer faculdade de administração de empresas e quero estudar até quando for possível."

Jessislane Rodrigues Aquino, 15 anos, aluna do 3º ciclo da EJA (5ª e 6ª séries), em Marabá, PA.
Jackson
Distância da escola "Morava na zona rural, minha casa ficava muito longe da escola e não havia transporte. Durante seis anos, ajudei meu pai na roça. Este ano, ele passou a trabalhar em uma fábrica aqui e comecei a estudar. Como nunca havia frequentado a escola, recomendaram que eu fosse para a EJA."

Jackson Martins da Silva, 18 anos, aluno do 1º ciclo da EJA (1ª e 2ª séries), em Sertãozinho, SP.
Marciane
Gravidez precoce "Fiquei sem estudar por dois anos porque me casei, tive bebê e meu ex-marido era muito ciumento. Perdi muito tempo, mas voltei mais madura. Antes, só pensava em bagunçar. Aqui, na EJA, não tem isso. Só tenho uma amiga, mas acho até bom porque me concentro mais. Quero logo tirar o diploma e conseguir ser advogada."

Marciane Souza Dias, 18 anos, aluna do 4º ciclo da EJA (7ª e 8ª séries), em Teresina, PI.
Wallace
Desmotivação "Fiquei três anos fora do colégio porque achava estudar chato demais. Cheguei a dizer para a minha mãe que ‘preferia morrer a voltar pra escola’. Ela tem 60 anos e me convenceu a voltar quando ela própria se matriculou. Hoje, estamos na mesma turma."

Wallace Jonatas Belo da Silva, 17 anos, aluno do 4º ciclo da EJA (7ª e 8ª séries), em Sertãozinho, SP.




Como eu preparo as pautas de formação dos professores

Fazer uma pauta detalhada ajuda a aproveitar melhor o tempo das reuniões de formação
Preparar uma pauta de ATPC não é nada fácil! Eu acho tão complicado comoquanto preparar uma aula – exige tempo, estudo e dedicação. Me esforço muito para deixá-las o mais completa possível, para que ela seja um roteiro mesmo do que será trabalhado com os professores. Dessa forma, chego para as reuniões sabendo exatamente o que nós vamos fazer – do início até o fim.
Para definir o conteúdo que será discutido, levanto os temas por meio dos instrumentos que utilizo para acompanhar as aprendizagens dos alunos (portfólios, simulados e observação de aulas) e assim, verifico o que precisa ser trabalhado com os professores. As orientações que recebo na Diretoria de Ensino também ajudam na minha formação e são essenciais na formação dos professores.
O passo a passo do preparo das reuniões
Antes da reunião:
1º. Planejo o que pretendo trabalhar na reunião em termos de conteúdos, temas ou assuntos; materiais que serão utilizados; a leitura a ser feita aos professores e a frase que gosto de colocar na pauta.
2º. Vou para o computador e digito a pauta que tem uma estrutura:
- Nome da escola.
- Cabeçalho.
- Objetivos da reunião que, aliás, escrevo de forma simples, clara e objetiva.
- Conteúdos que serão trabalhados.
- Atividades que na sequência vão desencadear as discussões, os estudos, isto é, um encaminhamento metodológico da reunião, do início até o fechamento da mesma.
- Uma frase finaliza a pauta.
3º. Providencio para todos os professores: cópia da pauta, xerox de textos, ou seja, os materiais necessários para a reunião.
4º. Imprimo a lista de presença, que é muito importante.
Para fazer tudo isso, demoro em média três a quatro horas e, de uma reunião para outra, já fico planejando mentalmente o que fazer na próxima. É uma loucura!
Disponibilizo aqui dois modelos de pauta que fiz para a escola onde trabalho: uma sobre revisão de texto e outra sobre como trabalhar notícias de jornais em aula.
Durante a reunião:
Inicio todas as reuniões com uma leitura de texto literário para os professores.
Na sequência, entrego a pauta da reunião e faço a leitura da mesma. Também entrego ao professor responsável pelo registro da reunião uma pauta que possui no verso um espaço para os registros. Eu arquivo esses registros e os encaderno ao final de cada semestre.
Então, damos início às atividades planejadas e encerramos com comentários do que foi discutido e com propostas para as próximas reuniões. Ao final de cada semestre, os professores avaliam as reuniões de ATPC, que me proporciona redirecionar as mesmas.
Não acho tão simples organizar uma reunião de formação, principalmente, porque também tenho que me preparar para os assuntos ou temas que serão tratados. Ou seja, tenho que, literalmente, estudar e pesquisar antes de apresentá-los.
Depois da reunião:
Organizo a pauta e materiais estudados num portfólio com as reuniões de ATPC.
E vocês como organizam as pautas de formação?

O PNE e os debates sobre financiamento educacional no Brasil



Ilustração: Vilmar Oliveira
Ilustração: Vilmar Oliveira
 
Encontro realizado nesta terça-feira, 10 de abril, entre membros da Comissão Especial do Plano Nacional de Educação (PNE) na Câmara dos Deputados e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, colocou novamente em debate o financiamento da Educação para os próximos anos.
Longe da pressão de entidades sociais que cobram mais recursos para a área, Mantega afirmou que o governo pretende manter no PNE um investimento direto de 7,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em Educação a partir de 2013. A proposta é a mesma que constava no relatório do plano, muito criticado por movimentos socais ligados à área. Nele, estava colocado que o investimento total em Educação seria de 8% do PIB. Dentro desse montante entravam os 7,5% diretos já mencionados e gastos que fogem da alçada do setor público de ensino, como despesas relacionadas a bolsas de estudos e transferências ao setor privado. Contudo, a garantia do investimento direto já é um avanço.
Segundo a Agência Câmara, mais de 500 das cerca de 3 mil emendas propostas para o novo PNE no ano passado previam aumentar o financiamento para um valor equivalente a 10% do PIB. "Se o governo tivesse certeza de que 7,5% é o ideal para a área, iria à Câmara debater o assunto com a maioria que o está discutindo. Ocorreu justo o contrário, o Legislativo foi ao Executivo", explica Daniel Cara, coordenador geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação.
Para mensurar a diferença entre as proposta, vale destacar que, considerando o PIB brasileiro de 2011 - estimado em 4,1 trilhões de reais pelo Ministério da Fazenda -, 5,7%  (percentagem aplicada atualmente) representam 234 bilhões de reais; 7,5%, 307 bilhões e 10%, 410 bilhões para a Educação.
A demora na definição de um valor que supra todas as demandas para a melhoria do ensino brasileiro até 2020 contribui para que os problemas no setor se mantenham. Atualmente, os 5,7% do PIB direcionados à Educação não são sinônimo de qualidade, e não ajudam a mudar quadros alarmantes: mais de 730 mil crianças e jovens entre 6 e 14 anos estão fora das escolas e cerca de 15 milhões de brasileiros são analfabetos.
O processo de universalização do ensino público nacional é recente e, portanto, estamos em fase de recuperação do sistema. Nesse sentido, a necessidade de maiores gastos para chegarmos à excelência é inevitável. Para José Marcelino Rezende Pinto, professor da Universidade de São Paulo (USP), campus Ribeirão Preto, sistematizador do Custo Aluno Qualidade Inicial (CAQi), o país tem de aproveitar o momento do chamado Bônus Populacional em que se encontra. O período é marcado por uma queda da população na faixa de escolarização - entre 6 a 14 anos -, baixo número de idosos e grande população economicamente ativa.
"Com a diminuição natural no número de crianças e jovens, a pressão para a construção de novas escolas diminui e deixa o orçamento da União mais folgado para investir, por exemplo, na ampliação da jornada escolar, passando pela Educação Integral de qualidade prevista no novo PNE", explica Rezende. Sob essa perspectiva, a formação e valorização docente também podem ter mais atenção. "Se queremos melhorar o salário para valorizar o professor e, assim, garantir a qualidade do ensino, será preciso gastar gradativamente mais em Educação", completa ele.
A experiência de outros países mostra que, para conseguir um salto na qualidade, é preciso mais investimento e prioridade. Na Coreia do Sul, por exemplo, para superar a desolação pós-Guerra (1950-1953), o governo dedicou 10% de seu PIB ao ensino, durante uma década.
Instigando a reflexão entre aqueles que dizem o contrário, no fim do ano passado, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou que existem, sim, formas de aumentar substancialmente o financiamento da Educação nacional sem comprometer outros setores. Segundo o comunicado Financiamento da Educação: Necessidades e Possibilidades, as opções de ampliação do investimento podem ser de cinco tipos: tributários; rendas do pré-sal; folga fiscal; outras fontes não tributárias e de melhorias de gestão e controle social dos gastos públicos.
Entre as alternativas mais detalhadas, estão o aumento da vinculação de impostos para Educação; a possibilidade de financiamento pela ampliação das rendas do governo com o Pré-sal e criação do Fundo Social do Pré-Sal - em 2010, o governo chegou a cogittar o direcionamento 50% dos recursos do fundo para a Educação - e a criação de políticas de melhorias e recomposição do gasto público na área, visando a eficiência do investimento.